Voto Certo - Decálogo do Voto Ético eleições 2016

 Por      Jornal Pequeno    

Durante as eleiçoes presidenciais de 1998, a Associação Evangélica Brasileira (AEVB) redigiu e divulgou um texto em defesa do voto ético e lúcido. O texto continua mais atual do que nunca, julgue você mesmo.
Decálogo do Voto Ético
I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;
II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;
III. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;
IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é orientar os cristãos a conhecerem bem a história, e principalmente a proposta de governo dos candidatos através de debates multi-partidários e outros meios que possibilitem que todos sejam ouvidos sem preconceitos.
V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil deve levar os pastores a não tentar conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;
VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidas com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um “despachante” de igrejas.
VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguirá alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades ou outros “trocos”, ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais “acertos” impliquem na prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a “recompensa” seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;
VIII. Os eleitores evangélicos devem votar em seus candidatos, sobretudo, baseados em programas de governo, e não apenas em função de “boatos” do tipo: “O candidato tal é ateu”; ou: “O fulano vai fechar as igrejas”; ou: “O sicrano não vai dar nada para os evangélicos”; ou ainda: “O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos”. É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo;
IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: “o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto”, é de bom alvitre que, ainda assim, se dê um “voto de confiança” a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. A fé deve ser prioritária às simpatias ideológico-partidárias.
X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.”
Não queremos chover no molhado. A mais desligada das pessoas certamente já ouviu que o Brasil foi engolfado por uma pororoca de corrupção sem precedentes na política, havendo o caso extremo do Estado de Rondônia que foi gangsterizado nas três esferas de poder. Até onde se sabe, dos 24 deputados estaduais, apenas um não foi arrolado entre os políticos marginais, em que estão incluídos o presidente da Assembléia, o presidente do Tribunal de Justiça (fato inédito no país) e há fortes indícios (gravações da PF) de que o governador também está no rolo.
Em Brasília, 99 políticos, entre senadores e deputados, estão listados na CPI dos sanguessugas. Já se cogitou números maiores, mas este é o número que consta no relatório que será apresentado. Destes, apenas 15 foram mencionados, mas não se encontrou provas robustas, palavra que entrou na moda quando se quer dizer que os tais não têm a menor chance de escapar tal o descalabro de seu comprometimento. Mas, na terra brasilis, tudo pode acontecer. Boa parte deles pleiteia a volta ao Congresso Nacional.
Toda eleição é importante, mas esta reveste-se de especial valor porque temos a oportunidade de fazer uma renovação nos quadros políticos nas esferas estadual e federal, incluindo aí o presidente e o governador. Aqueles que a lei não alcançar (as chances são muitas), serão recusados nas urnas.
Em quem votar? Sugerimos a leitura do decálogo evangélico do voto ético (ver box), que pode ser muito útil. Bom seria se ele motivasse um debate dentro das igrejas.
A maioria de nós, provavelmente, não lembra em quem votou. Pelo menos é assim que as pesquisas retratam a memória do brasileiro neste quesito. Mesmo que lembremos, não temos o hábito de acompanhar o desempenho do candidato votado. Na prática, o político recebe o mandato e faz dele o que bem entende. Muda de partido, alia-se a quem quer, defende coisas estranhas à revelia da opinião de seus eleitores. È como se ele fosse dono do mandato, embora, retoricamente, afirme outra coisa.
Então, antes de votar, além do decálogo aqui sugerido, acrescentamos:
1. O que defende seu candidato? Você votaria num candidato que abertamente defende valores morais ou éticos contrários à sua fé? Veja que não se fala de moralismos, ideologia política, mas valores que frontalmente ignoram os mandamentos bíblicos. Pense nisso. Como saber o que pensa seu candidato? Pesquise. Veja se tem um site, um blog, um jornalzinho. Leia jornais, acesse os sites da Assembléia Legislativa, da Câmara Federal e do Senado. Os que eles falam e defendem está tudo registrado.
2. Voto não tem cor. Verdade. Mas o candidato que escolhemos para votar não deve se mover por esta máxima mercenária. O político, se é eleito para servir ao povo, deve considerar uma ligação ideológica, emocional, filosófica e moral com seus eleitores e não ficar acenando para qualquer causa só porque pode lhe render votos.
3. Todo candidato que coloque a fé como principal argumento para convencê-lo, desconfie. Não se vota pela fé, mas pela análise de propostas, pelo perfil do candidato, o currículo no trabalho para a comunidade. Qualquer político, com fé ou sem, é acima de tudo, um servidor do povo. Pode até sair de um grupo específico, até identificar-se como tal, mas seu mandato é para o bem da população. A fé é um suporte no julgamento do perfil do candidato e em suas propostas.
4. Candidatos ao Legislativo que preguem ações que não lhe competem, também estes merecem desconfiança. Por exemplo. Quando faz promessas de construção de estradas, construção de escolas, etc. Quem faz isso é o Executivo. O parlamentar até pode requerer uma ação do prefeito, do governador, do presidente, mas no Brasil isto significa acordos, no mínimo, questionáveis. O legislador, além da proposição de leis, é um fiscal do Executivo. Se ele é, de algum modo, atendido, muda de patrão, termina em esticamento de mandatos (lembram do Sarney?), na votação de leis estranhas (FHC e a reeleição), mensalões, etc. Estas relações costumam terminar em balcão de negócio e você sabe, a coisa é na base do toma-lá-da-cá.
A Bíblia diz que tanto o rei como o juiz (está subentendido o legislador), recebem autoridade delegada de Deus e que nós devemos respeitá-los como “ministros de Deus” (Rm 13.1-6). Evidente, eles não têm mandato para serem corruptos, injustos e ladrões. Nas circunstâncias da democracia estes homens e mulheres são investidos daquela autoridade com seu voto. Veja que responsabilidade!
Eudes Oliveira de Alencar
eudesalencar@hootmail.com.br

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