A Marcha para Jesus, realizada em Taboão da Serra, é oficialmente apresentada como uma manifestação religiosa. No entanto, seu significado vai muito além da espiritualidade. O evento, que reúne milhares de fiéis em um ato de louvor e celebração cristã, também se consolida como um espaço de construção de capital simbólico e político, especialmente pela presença de lideranças públicas e pela sua inclusão no calendário oficial do município.
A institucionalização da marcha como evento anual revela o reconhecimento do poder mobilizador das igrejas evangélicas e da força da fé como elemento de coesão social. Mais do que uma caminhada de fé, a Marcha para Jesus se transforma em um palco onde autoridades locais se apresentam, discursam e se conectam com a população. Prefeitos, vereadores e pré-candidatos aproveitam a ocasião para reforçar suas imagens, muitas vezes alinhando suas falas às pautas morais e espirituais que ressoam com os participantes.
Esse fenômeno não é exclusivo de Taboão da Serra. Em diversas cidades brasileiras, a Marcha para Jesus se tornou um termômetro político, revelando alianças, intenções eleitorais e estratégias de aproximação com o eleitorado religioso. A presença de trios elétricos, artistas gospel e cobertura midiática amplia ainda mais o alcance do evento, que passa a ocupar um lugar estratégico na disputa por visibilidade e legitimidade.
É importante destacar que essa intersecção entre fé e política não é, por si só, negativa. A religião sempre teve papel relevante na formação das sociedades e na luta por direitos. Contudo, é necessário refletir sobre os limites dessa relação, especialmente quando o espaço público se torna palco de disputas que podem comprometer a pluralidade e a laicidade do Estado.
A Marcha para Jesus em Taboão da Serra, portanto, é um retrato vivo das complexas relações entre espiritualidade, cultura e poder. Um evento que, ao mesmo tempo em que celebra a fé, revela os caminhos pelos quais a política busca se legitimar diante da força simbólica das manifestações religiosas.
Aqui está a versão atualizada depoimentos de lideranças religiosas e políticas que participaram da Marcha para Jesus em Taboão da Serra em 2025:
O apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Igreja Renascer em Cristo e idealizador da marcha, fez questão de parar o trio elétrico em frente à prefeitura para realizar uma oração pública:
“Eu quero que você levante as mãos, nós vamos erguer um clamor agora, para que o Senhor possa trazer transformação. Aqui em breve será a estação do metrô. O Senhor vai mudar a história de Taboão. Deus abençoe ricamente todos que creem. E aqui também tem a prefeitura. Vamos clamar por Taboão da Serra.”
Ele também pediu bênçãos para o prefeito Engenheiro Daniel (União Brasil):
“Que o Senhor possa também abençoar esta prefeitura, o prefeito Daniel, todos que trabalham aqui, para que esta cidade tenha um governo justo.”
Ao lado do apóstolo, estavam o deputado estadual Eduardo Nóbrega (Podemos) e o vereador Anderson Nóbrega (PSD). Eduardo fez menção à obra da futura estação do metrô, entrelaçando discurso político com referências bíblicas, o que gerou críticas nas redes sociais por parte de munícipes que apontaram uso político do evento religioso.
Já o vereador Anderson Nóbrega, em entrevista anterior, buscou separar os campos:
“Acaba refletindo na nossa imagem [de políticos], mas não tem que misturar com política. A Marcha para Jesus é uma manifestação de fé e esperança.”
A marcha contou com estrutura financiada por emenda parlamentar, com custo estimado em R$ 400 mil, e incluiu shows de artistas gospel no Parque das Hortênsias. A presença de faixas com o nome de Jesus, bandeiras do Brasil e orações públicas reforçou o caráter espiritual do evento, mas também evidenciou sua força como espaço de visibilidade política.
A Marcha para Jesus em Taboão da Serra, portanto, é mais do que uma caminhada de fé. É um retrato das complexas relações entre espiritualidade, cultura e poder, onde a fé se torna também ferramenta de mobilização e afirmação pública.